Celular em cadeia de SP vale até R$ 20 mil

Um celular, R$ 20 mil. A bateria sai por R$ 100 ou R$ 1.000. A entrada de uma prostituta, R$ 300. Os preços do “feirão” dos presídios paulistas variam conforme o grau de segurança da unidade.

Quanto mais seguro, mais caro será o produto ou o serviço a ser prestado. A Folha conversou com sete funcionários do sistema prisional paulista, que disseram haver uma tabela de preços nas detenções. Algumas vezes, segundo relatam, com anuência de chefes de unidades.

Para comprar celulares, usados por facções para ordenar crimes, como assassinatos de agentes penitenciários e policiais, detentos pagam de R$ 5.000 a R$ 20 mil.

Agora, presos também usam os equipamentos para fazer vídeos nos quais reclamam das condições da prisão.

Na unidades, também são vendidos baterias (de R$ 100 a R$ 1.000), chips (R$ 200 a R$ 1.000), carregadores (até R$ 200), trouxas de maconha (R$ 50) e crack (R$ 100).

Dados obtidos pelo site Fiquem Sabendo, por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram que nos presídios paulistas um celular é apreendido, em média, a cada 36 minutos. De janeiro a maio deste ano, foram 6.081 deles.

As apreensões e o aparato para impedir a entrada de telefones, como raio-X e revistas aos visitantes, inflacionam o preço dos produtos.

Assessor jurídico da Pastoral Carcerária, Paulo Malvezzi diz que, devido ao maior controle, é quase impossível um celular entrar nas prisões sem a ajuda de funcionários.

“A gente, com certa segurança, pode dizer que a totalidade dos celulares [que entram nas prisões] é de responsabilidade de agente do Estado”, diz. “Com a revista vexatória, com detecção de metal, é muito difícil que algum advogado entre com celular ou uma visita entre [com o telefone] nas partes íntimas”.

VÍDEOS

A Folha teve acesso a vídeos feitos por presos que dizem estar no CDP do Belém, zona leste de SP. Em um deles, reclamam da superlotação.

“Primeira fase do descaso e desumanidade no CDP Belém 2: superlotação. Convívio em uma área do poder punitivo do Estado, onde o centro compacto, criado para suportar 768 presos, tem, por ora, 2.400 presos. Essa situação [é] degradante”, afirma o preso, ao ler um discurso.

O detento vira a câmera e mostra diversos outros presos amontoados na cela –todos com o rosto coberto com camisetas brancas.

Em outro vídeo, um dos presos está aparentemente passando mal. “Vocês vão ver o tamanho do tempo para eles atenderem o preso. Um preso pode estar sofrendo um infarto. Até agora ninguém atendeu”, diz o detento no vídeo.

Para o coordenador do núcleo de situação carcerária da Defensoria Pública, Patrick Lemos Cacicedo, as prisões da Grande SP são as mais lotadas. A pior situação é a da saúde, diz ele, devido à falta de médicos nas prisões.

ARTUR RODRIGUES
LEANDRO MACHADO
DE SÃO PAULO

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